Essa seria a era da ansiedade?

Psicóloga Isabelly Fossatti. | CRP: 22/03059

Vivemos na era da produtividade. Vidas e mentes aceleradas, sempre imersas em diversos projetos e metas a serem cumpridas imediatamente. Porém, em contrapartida a este cenário, nunca se presenciou um período com tantas pessoas em significativo sofrimento mental. Diante do mundo moderno e imediatista no qual se vive, não se pode negar que as taxas de transtornos mentais, como, por exemplo, a depressão e ansiedade, aumentaram drasticamente nos últimos tempos, acarretando as mais diversas consequências na vida da população. De acordo com a pesquisa realizada pela a Organização Mundial de Saúde em março de 2019, o Brasil é considerado o país mais ansioso de todo o mundo, no qual cerca de 18,6 milhões de brasileiros encontram-se adoecidos.

Diante desses dados, pode-se afirmar que apesar da ansiedade configurar-se em um preocupante problema de saúde pública, ainda se refere a uma doença mental significativamente desconhecida e encoberta de diversos mitos. Sendo assim, um dos grandes mitos envoltos nesta emoção reside no fato da crença que a ansiedade se trata de uma emoção totalmente prejudicial a quem a sente. Portanto, deve-se ressaltar que tal estado de humor é necessário e comum a todo e qualquer ser humano.

 Por exemplo, imagine que você está passeando por uma rua perigosa da sua cidade e de repente você avista uma pessoa com um comportamento atípico. Provavelmente, o seu corpo irá te preparar para fugir e é neste momento que a sua ansiedade está em ação. O coração bate mais rápido e o sistema cardiovascular é ativado, permitindo, assim, que você se proteja da situação que te causa medo.

Portanto, neste exemplo, tem-se uma situação clara e compreensiva para se sentir ansioso (a), assim como a chegada de uma prova importante ou uma entrevista de emprego. Todavia, a linha que separa a ansiedade como uma emoção necessária a sobrevivência e como patologia é tênue. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V), “os transtornos de ansiedade incluem transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados. Medo é a resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura”. Sendo assim, a ansiedade é o sistema de alarme do nosso corpo, que dispara quando percebe algum perigo. Porém, em casos em que os quadros ansiosos se configuram em patológicos, este estado de humor dispara, de modo excessivo, em momentos em que não há nenhum perigo “perceptível”, gerando, assim, uma série de sinais e sintomas negativos.

Nesses quadros, que devem ocorrer na maior parte do dia e por um período de no mínimo seis meses, são comuns a presença de sintomas físicos e cognitivos, como por exemplo: tensão muscular, taquicardia, sudorese, náuseas, irritabilidade, angústia, medo constante, preocupação excessiva, dificuldade em relaxar, problemas com o sono e inquietação mental e/ou corporal. Dessa forma, a pessoa vive imersa em angústia, irritação e preocupação.

 Diante de todas essas emoções desagradáveis, é comum o indivíduo passar a evitar as situações que provocam todos esses sintomas, como uma forma de proteger-se. Portanto, tal comportamento de evitação surte efeito apenas a curto prazo, no qual naquele momento, o sofrimento é impedido de vir à tona. Porém, quanto mais o indivíduo foge de tais situações ansiogênicas, mais amedrontado ele começa a se sentir, aumentando consideravelmente o nível de sua ansiedade, prejudicando, diretamente, a sua qualidade de vida.

Logo, como os transtornos ansiosos são pouco conhecidos e debatidos na população brasileira, as pessoas não oferecem a importância necessária a esse sofrimento, deixando para se cuidar e olhar com atenção para si mesmo sempre em outro momento. Portanto, nesse caminho inverso ao tratamento, a ansiedade pode começar a ganhar forças e a evoluir para outras comorbidades, como por exemplo, a depressão ou mesmo o alcoolismo.

Dessa forma, é de extrema importância, procurar pelo o tratamento adequado assim que se notar alguns desses sinais, visando a melhoria da qualidade de vida. Torna-se válido ressaltar que o tratamento dos transtornos ansiosos pode ser realizado tanto com psicólogos quanto com psiquiatras, caso seja necessário o uso de medicação. Além disso, algumas mudanças de estilo de vida, como, por exemplo, a prática de exercícios físicos, podem contribuir significativamente para a redução dos níveis de ansiedade. O importante é sempre ter em mente que é possível atingir uma vida emocionalmente saudável mesmo quando se convive com esta condição, basta procurar pela a intervenção correta.

Referências bibliográficas:
Estadão. (2019). Os brasileiros são os mais ansiosos do mundo, classifica a OMS. https://veja.abril.com.br/saude/os-brasileiros-sao-os-mais-ansiosos-do-mundo-segundo-a-oms/
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais.(2002). (4.ed.). Porto Alegre: Artmed.
Dalgalarrondo, P. (2008) Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. (2° ed). Porto Alegre: Artes Médicas do Sul

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